Equipe Interdisciplinar: breve histórico

Equipe Multiprofissional com Abordagem Interdisciplinar na Saúde 

         Neste post  trago um pouquinho da história do atendimento às pessoas com deficiência até chegar ao modelo atual de equipe interdisciplinar.

Peço licença para prestar uma devida homenagem ao médico fisiatra Dr. Gilberto Martins Ribeiro, falecido tragicamente em 1983, que foi um dos pioneiros a implantar esse modelo atual de equipe multiprofissional com abordagem interdisciplinar baseado na gerência participativa.

Essa homenagem procede pelo fato de ter sido a primeira equipe na qual eu tive o prazer de atuar logo após minha graduação em Fonoaudiologia e onde aprendi muito trabalhando com profissionais de excelência e a qual devo minha formação em trabalho de equipe.

Sou muito grata a esse médico visionário e uma pessoa ímpar que conseguia agregar dentro e fora do ambiente terapêutico. Seus saberes, suas cobranças e, acima de tudo, sua generosidade e sua alegria contagiavam a todos que tiveram o prazer de conviver com ele.

Ao Dr. Gilberto Martins Ribeiro meu muito obrigada.

A partir do momento em que os conceitos relativos à deficiência foram evoluindo conforme crenças, valores culturais e transformações sociais nos diferentes momentos históricos, o conceito de interdisciplinaridade na saúde ganha relevância no mundo ocidental. 

Ao longo da história da humanidade, podemos observar diversas mudanças nos tratamentos dispensados às pessoas com deficiência, desde ações de caridade à institucionalização com medidas assistencialistas as pessoas com deficiência. Assim, o modelo assistencial direcionado à pessoa com deficiência deu lugar ao modelo médico que focava na deficiência, e este, por sua vez, ao modelo social da deficiência que vem se fortalecendo como processo bilateral no esforço conjugado entre as pessoas e os sistemas sociais. Nesse modelo o foco de atenção deixa de ser a deficiência e se direciona para o indivíduo com deficiência e seu processo de inclusão para assumir seu lugar de cidadão com direitos e deveres nos contextos familiar, escolar, de trabalho e comunitário. Dessa forma, as equipes interdisciplinares ganham relevância como forma de buscar a integralidade das ações e melhor qualidade dos serviços de saúde às pessoas com deficiência.  

A equipe multiprofissional com abordagem interdisciplinar baseada na gestão participativa é um modelo de administração estruturada na confiança entre profissionais de diversos níveis hierárquicos. Os atores devem participar do processo decisório com uma estratégia transversal adotando práticas e mecanismos que efetivem a participação tanto dos profissionais de saúde como da própria pessoa com deficiência, da sua família e da comunidade.

No Rio de Janeiro, em 1957, foi inaugurado o primeiro Centro de Reabilitação da ABBR criado dentro da concepção moderna de reabilitação como um processo integrado com equipes multiprofissionais. Porém, apesar de prestar um excelente atendimento às pessoas com deficiência e de incluir fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais além de médicos ortopedistas e fisiatras em sua equipe, este Centro sobrevivia pelo apoio da sociedade carioca por meio de um grupo de senhoras voluntárias (as Legionárias) que se dedicavam às campanhas para arrecadação de fundos, promovendo eventos e defendendo os interesses da ABBR junto à sociedade.

Em 1968 o médico fisiatra Dr. Gilberto Martins Ribeiro assume o cargo de chefia da Clínica de Fisioterapia do Hospital Central do IASERJ e em conjunto com a também médica fisiatra Dra. Maria Eunice Machado eles elevaram essa Clínica a condição de Serviço de Medicina Física e Reabilitação. Estava instituído, então, no IASERJ, o processo de reabilitação baseado em conceitos científicos visando o ganho funcional dos pacientes e tendo como meta final a inserção social da pessoa com deficiência. Dr. Gilberto foi o pioneiro em trazer para esse serviço o trabalho em equipe multiprofissional com metodologia interdisciplinar implantando o modelo de gerência participativa nas equipes de reabilitação.

A partir da bem sucedida experiência no serviço público, Dr. Gilberto Ribeiro abriu a primeira clínica privada no Rio de Janeiro com esse olhar contemporâneo sobre a reabilitação da pessoa com deficiência. Na clínica privada a equipe era composta de fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos e psicopedagogos. Dr. Gilberto utilizava a gestão participativa como coordenador da equipe, onde todos os profissionais tinham a responsabilidade sobre o paciente, de acordo com sua área de atuação. Nas reuniões de equipe que eram realizadas semanalmente, os saberes se completavam na direção da melhor proposta para o paciente.

Atualmente várias clínicas privadas por todo o Brasil utilizam esse modelo de reabilitação em equipe multiprofissional com abordagem interdisciplinar e gerencia participativa.

A partir desse momento e, seguindo os movimentos da sociedade e da história, esse modelo passa a ter uma atuação nova diante dos saberes, caracterizada pela transdisciplinaridade. Assim as áreas médica, pedagógica, social, econômica, política, do direito, das engenharias, da arquitetura e outras, devem estar consoantes com a realidade da pessoa com deficiência que deve ter os seus direitos de melhor qualidade de vida e de saúde, de formação acadêmica, de mobilidade, de trabalho e de visibilidade política e social assegurados.

Ao entendermos a deficiência como uma das manifestações da diversidade humana, devemos trabalhar no sentido de impedir que barreiras educacionais, de acessibilidade e, principalmente sociais provoquem a desigualdade.